Aqui fica um dos mais belos poemas da língua portuguesa, e a sua adaptação musical por Manuel Freire - em conjunto com Paco Bandeira, Samuel, Carla Pires, Nuno Cabrita, São Bandeira e, ao piano, José Marinho.
Pedra Filosofal
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam
como estas árvores que gritam
em bebedeiras de azul
eles não sabem que sonho
é vinho, é espuma, é fermento
bichinho alacre e sedento
de focinho pontiagudo
que fuça através de tudo
em perpétuo movimento
Eles não sabem que o sonho
é tela é cor é pincel
base, fuste, capitel
que é retorta de alquimista
mapa do mundo distante
Rosa dos Ventos Infante
caravela quinhentista
que é cabo da Boa-Esperança
Ouro, canela, marfim
florete de espadachim
bastidor, passo de dança
Columbina e Arlequim
passarola voadora
pára-raios, locomotiva
barco de proa festiva
alto-forno, geradora
cisão do átomo, radar
ultra-som, televisão
desembarque em foguetão
na superfície lunar
Eles não sabem nem sonham
que o sonho comanda a vida
que sempre que o homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos duma criança.
António Gedeão
bonita esta homenagem!
ResponderEliminarbeijo
Muito bom, um dos mais emblemáticos poemas de António Gedeão, ou seja, o saudoso Professor Rómulo de Carvalho, de Física e Química, do Liceu Pedro Nunes.
ResponderEliminarPrecisamente! Podemos identificar o gosto pela química em muitos dos seus poemas!
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